08 outubro, 2010

Ser criança

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Ser criança é ter, na cabeça, fantasias. Nos olhos, um mar de poesia e o brilho do Sol. É conhecer, pela boca, o sabor da vida; pelas narinas, aspirar o perfume único de seus pais, cuja proximidade lhe transmite confiança e segurança. É tocar com as mãos o novo e descobrir um universo de diferentes texturas, temperaturas, consistências... um mundo de diferenças: boas e ruins. 

É ter asas nos pés e "pernas pra que te quero", correr, pular, cair, tropeçar e aprender como se levantar. É ter, no coração, espaço suficiente para amar muita gente e, na alma, a pureza perdida pelos adultos, adquirida com o crescimento.

Enquanto se é criança, se tem a semelhança com o sagrado, ou um ser angelical despido de preconceitos e repleto de bondade. A criança é cheia de energia e vive de momentos, por isso é tão ativa. Para ela, existe somente o agora; o amanhã é algo que sua pequena mente não consegue captar. Para ela, seus pais estarão sempre presentes e o mundo tem o tamanho do que seus olhos podem alcançar. 

É difícil ser criança hoje em dia, num mundo tão conturbado e programado. Esses pequenos projetos de gente, desde cedo já têm uma agenda de atividades a cumprir (inglês, balé, natação, futebol, computação....). As brincadeiras são, na maioria, monitoradas, seja pelo computador ou videogame, o que é excelente para o desenvolvimento intelectual, mas que tolhe seu lado criativo.

É importante que não se perca a essência infantil para o amadurecimento precoce. Toda criança deve ser, acima de tudo, CRIANÇA e a ela deve ser permitido o direito de não fazer nada direito e aprender com os próprios erros. 

A criança ideal é aquela à qual se consinta que aflore sua natureza observadora do mundo. Que ela explore, sinta, aprimore... afinal, é uma pequena aprendiz e, aprendendo feliz, será um adulto legal! 

É primordial deixá-la andar com as próprias pernas, sobre a trilha que indicarmos a ela e, sempre, sob a mira de nossos olhos e ao alcance das mãos para lhe dar apoio. 

Que sejam assim, crianças, livres das imposições feitas a nós adultos. Elas podem (e devem) andar descalças, pisar em poças d’água, subir em árvore, chorar de alegria, desconforto e até de manha. Podem ser gordinhas que todos acham uma graça! Podem usar maria-chiquinha, ter brotoeja, cabelo de anjo, fazer "fusquinha", gritar, cantar, dançar no meio da rua, imaginar que tem um dragão na Lua, comer guloseimas, ser o artista da casa mostrando toda a sua criatividade nas paredes. Podem ter um amigo invisível que ninguém vai estranhar. Podem fazer farra, birra e guerra (se esta for de beijos, ou travesseiros). Podem ter um animal de estimação como melhor amigo, compartilhar com ele segredos, carinhos e até sua ração. 
As meninas podem fazer topless na praia e, tanto meninas, como os meninos, podem ser nudistas que ninguém repara. 

São seres inocentes e devem acreditar sempre. Portanto, não mintam a elas , tampouco façam promessas que não irão cumprir. 

Estarão sempre testando nossos limites e dando muitos palpites. Deixe que participem, elas precisam sentir-se parte de um grupo que se inicia na família e se amplia à medida que crescem. Sua participação no mundo irá depender da dose de carinho, amor, liberdade, atenção e valores que o grupo familiar proporcionou. 

Elas, crianças, são a esperança, a crença e a promessa de um futuro melhor.  Talvez, um ideal a ser alcançado. Tudo irá depender de como foi galgada sua escalada na vida. 

Para elas, crianças, o melhor de nós, adultos. Nosso respeito e amor: incondicionais.



Valéria Tarelho
out/2002
* texto revisado em out/2010

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